Uma tarde de domingo
Domingo à tarde. O sol brilha, brilha com aquela intensidade que nos faz querer ir espairecer, apreciar cada paisagem que se desenrola à nossa volta.
Num passeio pela baixa lisboeta parei. Parei a olhar para quem se estava a preparar para o seu trabalho, começando a montar as coisas de forma a fazer o que de melhor sabe: homem estátua.
Desenrolou-se a conversa. Faz aquilo todos os dias, paga uma licença à câmara para poder estar ali, naquele espaço, naquela calçada da Rua Augusta, mostrando a sua arte...a arte que é o seu trabalho, o trabalho que o preenche e o faz feliz.
A conversa ia decorrendo até que me disse "o que mais me entristece é que os portugueses não valorizam o que fazemos, passam por nós, gozam, e até já tentaram roubar as moedas". Fiquei preplexa. Nós, que deveríamos orgulharmo-nos daqueles que arte fazem, seja ela qual e onde for, ainda troçamos e tentamos derrubar a mesma.
"Quem é diferente como eu, como tu, somos vistos de lado. Até por apenas teres um piercing no nariz".
Suspirei.
Sim, tenho um piercing, sim tu fazes arte, arte com o teu próprio corpo, com essas pinturas que fazes, com essas horas a fio que passam e que ficas na mesma posição, quer o sol te queime o rosto, quer a chuva te molhe os pés. Essa arte que arranca sorrisos do rosto de quem passa e aprecia, e olhares de perplexidade nas crianças que te observam.
Continuei o meu caminho pela calçada, aquelas palavras ecoavam na minha mente.
Quando olhei para trás, estava um grupo de uns 5 jovens, pouco passavam dos 20 anos, a agarrar as moedas encenando que o estavam a roubar, a chamarem-lhe palhaço e mentiroso.
Voltei a suspirar.
Remar contra a maré, contra o que a sociedade não considera a normalidade, nem sempre é fácil..mas no fim, vale sempre a pena.
E ele sorriu.