Se soubesses e tentasses, terias ido a tempo
Tu nunca irias perceber.
Tu nunca irias compreender que aquilo que nos afastava era mais forte que aquilo que nos unia.
Que aquilo que me magoava era mais audaz que aquilo que eu amava.
Que aquilo que tu demonstravas era mais irreal que aquilo que tu retratavas.
Não irias entender. E também já não interessa.
Chama-me egoísta, egocêntrica, desinteressada. A verdade é que me amo mais a mim.
Amo mais aquilo que sou, que ambiciono, aquilo em que me tornei.
Amo tudo aquilo que faço, que escolho, que luto.
Se soubesses como tantas foram as palavras que me atingiram como flechas quando para ti eram coisas completamente, inevitavelmente normais.
Se soubesses a dor que sentia, as vezes que engolia em seco por visualizar, imaginar, retratar (-te) a ti e a quem nunca te vais desprender em cada minuto e segundo da minha vida.
Se soubesses como me custava tentar decifrar, compreender, ler e reler cada mentira que soltavas que, nessa tua forma de viver é nada mais que a verdade. Mas apenas a tua verdade.
Mas nesse teu Mundo tudo faz sentido, tudo é normal, tudo é um "tá-se bem".
Nesse teu Mundo existes tu e apenas tu, sendo os outros fantoches carbonizados sem maldade ou rancor.
Mas no meu não. Eu amo-me demasiadamente o suficientemente para ser atingida, para sentir dor, para engolir em seco. Amo-me mais do que te amava e te amo a ti.
Quem te conhecia, te conhecera, te conhece, não imaginaria o que se esconde por detrás desse teu vulto engrenado numa imagem que não corresponde à realidade. Mas ninguém vive apenas de aparências. Essa aparência que sempre quiseste e fizeste por manter, custe o que custasse.
Essa aparência que ditava a tua forma de viver, de pensar, de agir.
Essa aparência que sempre te interessaste mais em cuidar ao invés de retocares o que estava por detrás, no teu interior e na tua forma de estar e sentir.
Na verdade, o tempo não pára, e eu também não.
Mas tu, provavelmente, um dia pararás no tempo. Nesse tempo que só existe nesse teu Mundo. E, nesse dia, talvez entenderás, perceberás e compreenderás.
Mas não interessa. Será tarde demais.